sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

De Saída




Então, tenho o oficioso gesto de fechar esse caderno aqui, encerrar a temporada e dar recado duma materioteca de pelo menos 10 meses, sobre a qual preciso me debruçar agora com mais seriedade (alguma seriedade). Não é bem a estaca zero, tampouco recomeço, são – como disse – apenas gestos oficiosos que temos no sentido – bom, no sentido de forçar sentido à passagem do tempo.

Aviso aos leitores que meu atual estado é de desemprego extático. Basta não desesperar por um, talvez dois meses. Levar uma vida frugal, passear bastante e com os pés, sentar em parques onde ainda se possa fumar, acompanhado dos livros que não li em 2009 por puro desgosto de viver e duma térmica cheia de café que certamente apelidarei Térmica. Aviso aos leitores que cortei os cabelos e reduzi a barba ao mínimo criativo, e que sagrei 2010 o Ano Internacional da Camiseta Agarradinha (meu nariz persiste na vermelhidão, no entanto). E que levo adiante – ainda – a mesma quest por comprometimento e coração que norteou todo o meu trabalho literário (!) até o presente momento, muito embora tenha passado o grosso de 2009 preso pelas vergonhas lá no outro lado, incomunicante e sem muita idéia de como me locomover (bêbado).

A idéia é comprar um caderno novo, operação que me parece muito séria. A capa preta, as canetas, e toda essa mística-para-lugar-algum que me faz pensar no Paul Auster enquanto vou demorando a despedida. Não sentirei falta de nada, porque sempre trato de me cansar bastante.

Planejo um hiato declarado de mês, mês e meio, depois volto e mostro o que tenho feito, porque terei feito alguma coisa (espero). Andei relendo os poemas do “Ramerrão” (próximo livro) e já não gosto de quase nada. Quero começar a escrever sem tanto compromisso (lembrando sempre, comprometimento não tem coisa alguma que ver com compromisso), minimizar o sentido oficial, e trabalhar a própria soltura dos cadernos. Até no Twitter as pessoas tem me soado obrigadas, terrivelmente obrigadas a fazer senso, o que me leva a crer que estamos todos muito mais próximos da histeria do bon mot do que havíamos imaginado (isso, como se sabe, é um dos sinais mais incontornáveis de que o fim dos tempos se avizinha).

Então, às afluentes, para quem quiser ter alguma notícia minha. Tem aquele Formspring fajuto, onde você pode me perguntar coisas, se essa for, por assim dizer, a sua. Tem também o Tarnished Angels, o “flogão demente” de retrozices que atualizo em parceria com os luminares do humor fluminense Juliana Fausto, Rafael “James” Monte e Isabela Mota. E tem meu Tumblr, que eu levo menos nas coxas justamente por me parecer tão afim a um caderno de colagens, desses que os jovenzinhos criativos pompeiam por aí, coisa que nunca consegui realmente ter porque não sou vocacionado para as artes manuais (tenho relações conflituosas com cola). Sem falar que o Tumblr é uma senhora plataforma, a única que me entusiasmou de verdade em 2010 (não fosse a melindrância crônica eu congregava tudo por lá mesmo).

No mais, devo dizer que o final de 2009 esteve cheio de coisas interessantes, e tenho muito orgulho de ter contribuído para projetos bacanas como a Bliss, a Modo de Usar e Co., o Jornal Plástico Bolha, o blog da Butt Magazine, o Jornal Vaia e a coleção Compacto Simples, ideada pelo amigo Dimitri BR. Agradeço também a atenção e a generosidade de Eduardo Coelho, Marcos Visnadi, Heloísa Buarque de Hollanda, Marília Garcia, Mariano Marovatto, Leonardo Gandolfi, Daniel Jablonski, Caio Carmacho, Victoria Saramago e todas as pessoas que demonstraram algum interesse pelo que tenho produzido desde o Synchronoscopio.

Por sinal, para você que acabou de chegar (e o boteco quase fechando), meu nome é Ismar Tirelli Neto. É importante fazer alguma atenção no Neto, sem ele, torno-me meu avô materno. Sou carioca, tenho 24 anos de idade e lancei – em agosto de 2008 – um livro chamado Synchronoscopio. São poemas, por sinal.