domingo, 4 de maio de 2008

Segundo Monólogo de Ancelmo



Você costumava gostar das minhas piadas. Você acha que eu faço piadas demais hoje em dia? Você deu pra ficar irritada com as minhas piadas, de repente. Do dia pra noite, você passou a fazer essa cara sempre que eu conto uma piada. Sabe, Franca... você adquiriu um hábito estranho... você fica o tempo inteiro tentando... matar minhas piadas. Em situações sociais, parece que você se sente obrigada a matar minhas piadas, o tempo inteiro. Já reparou como você faz isso? Você já deve ter reparado... aliás, eu tenho cá minhas suspeitas... eu acho que você faz tudo isso de propósito, é isso que eu acho, sinceramente... a gente sai com nossos amigos, eu conto uma piada, você olha pra mim – com essa cara – e tenta... sufocar a droga da piada... você faz que não entendeu – quando eu sei que você entendeu perfeitamente – eu chego até a contar piadas repetidas de vez em quando só pra ver a sua reação, só pra ver o que você vai fazer a respeito – e você FINGE que não entendeu, e pergunta da piada, se a piada, por exemplo, faz menção a alguma personalidade, por mais óbvia que seja essa personalidade, por exemplo, se eu faço uma piada que contém uma menção ao Papa, é capaz de você virar pra mim e perguntar O PAPA? QUEM É ESSE? só pra esvaziar a minha piada na frente de todo mundo, só pra fazer com que eu explique a droga da piada até que ela não tenha mais nenhuma graça, e isso é tão humilhante, Franca, que eu realmente tenho vontade de mandar você – de te mandar – de mandar você parar com aquilo imediatamente, porque é muito humilhante, Franca, e eu não faço idéia de por que diabos você resolveu de uma hora pra outra pensar que me humilhar, me diminuir, me deixar completamente afásico na frente dos nossos amigos mais queridos, bom, eu não sei o que diabos você tem em mente com isso, não sei se isso faz parte de algum plano seu ou não, não sei se você está tentando me comunicar alguma coisa com isso, o que seria um método bastante novo, eu diria, mas de todo modo, sabe, Franca, é terrivelmente humilhante, as pessoas certamente estão comentando pelas nossas costas, e eu acho execrável, isso tudo, execrável, eu acho absolutamente desprezível quando a gente começa a dar motivo pros outros falarem de nós pelas nossas costas – todo mundo fala de todo mundo pelas costas, certo, mas quando a gente começa a dar motivo – quando a gente realmente começa a agir de modo a prover material para que os outros falem coisas bárbaras a nosso respeito pelas nossas costas, então, Franca, então eu não sei, então eu definitivamente não sei de mais nada.

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