segunda-feira, 2 de junho de 2008

Não Morar Mais Ali (06:56)


Tem um estreito de asfalto, quando a gente cruza, não é mais o mesmo. Isso pode acontecer a qualquer momento. A gente andando ou não. A vontade dum diário, uma qualquer conversão. Parar de fumar, descobrir o broto de brócolis. Sonhar com vizinhos atacados dum câncer e acordar quase chorando. Desistir de qualquer coisa, começar qualquer coisa, retomar qualquer coisa de desistido. Bem de manhã, estou escutando Simon & Garfunkel & Jards Macalé baixinho, que não estou só. A casa coalhada de gente. Como tantas outras, não é minha. Não essa. Uma outra será. Agora não. Isso pode acontecer a qualquer momento (não estar só; estar só). Todo mundo aqui tem o sono bem leve, o movimento dos barcos é um sopro quase nada. Minha cara, agora, nem quero – ver muito mais. Repeat: it took me four days to hitchhike from Saginaw, I've come to look for America. Não só eu. Todos, todos vieram procurar pel´América, somos todos nesse hino. Todos apinharam caravelas, todos detidos na alfândega o tempo de quase desconhecer o próprio fôlego. Normal. Praxe. Tem um estreito de asfalto que a gente cruza, cuidando de não perder o ritmo nem do ar em roda nem dos pés abaixo, cabeça erguida, olhar duro de vontade. Valises cheias de livros e mochilas abarrotadas de agasalhos. Tiramos retratos. Do que sentir falta. Tiramos retratos do que sentir falta. Uma porta, uma estampa, certa dobra da manta, manchas, uma estância que não é mais aqui. Eu que não sei se volto, eu que não sei bem ficar, só faço adivinhar o longe. Como que vislumbro. Como que sigo. Ao passo da miragem.

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