segunda-feira, 28 de julho de 2008

Bulcão, uma Burocrata


"Havia ainda uma academia, duas piscinas, uma sauna, uma vasta área recreativa para crianças e até mesmo um pequeno salão de beleza que funcionava diariamente no horário comercial, excetuando-se os domingos, naturalmente. Minha burocrata deu uma risadinha gostosa, comentou alguma coisa sobre sermos todos filhos de Deus. Foi então que uma breve pausa se impôs, durante a qual fixei toda minha atenção no som rasteiro, quase tramador, produzido pelo recontro da esferográfica com a linha pontilhada. Eis o som que seu nome faz, pensei, e isso me divertiu por uma fração de segundo. Logo em seguida, valendo-se duma sem-cerimônia estudada até não mais, e por isso mesmo cativante – tenho um fraco pelas coisas ridículas – Bulcão perguntou-me se era casado. Mostrei um dos formulários; estado civil, solteiro, o quadradinho marcado com uma diminuta gaivota, poética, a coisa toda foi terrivelmente poética."
(do conto "Guarda-Vidas")

Um comentário:

Anônimo disse...

estou amando tudo que leio. Desse jeito, o mundo fica muito sem opções. :P

é só amar... amar... amar.

Na verdade, ia ser um mundo bom, não é?