SARA: Nós vivemos num estado entrópico, Mateus?
PALACE: No sentido político.
SARA: Eu não acredito que você achava que era nosso único informante.
PALACE: Bastante ingênuo da sua parte, comendador.
SARA: Bastante ingênuo, mesmo.
PALACE: Imagina, o nosso domínio do mundo, depender de um só indivíduo. Não, não. Há toda uma rede operando.
SARA: Estamos em contato constante com os altos escalões.
PALACE: Aparentemente, nós somos os favoritos, agora.
SARA: Nós recebemos as mensagens.
PALACE: Carta registrada.
SARA: Nós deciframos os códigos.
PALACE: Tá lá escrito – confidencial.
SARA: Classificado.
PALACE: Confidencial.
SARA: Segredo de estado.
PALACE: Favor não dobrar, contém fotografias aéreas.
SARA: A gente te mostraria o envelope, mas o Palace é tonto e esqueceu no quarto dele.
PALACE: Debaixo da cômoda, perto do teletipo. (para Sara) Boa menina.
SARA: Acho que a gente não precisa mais de você, Mateus.
PALACE: Estivemos conferenciando cá entre nós, e chegamos a uma conclusão meio pra lá de aterradora.
SARA: Chegamos a conclusão de que talvez você seja... perigoso.
PALACE: Um agente duplo.
SARA: Um infiltrado.
PALACE: A reação.
SARA: De modo que não precisamos mais de você, Mateus.
PALACE: Estamos por nossa conta e risco, agora.
SARA: Você segue em frente.
PALACE: Mas pode ficar descansado. Não vamos te delatar aos superiores.
SARA: Não, não temos a menor intenção de fazer isso. Chegamos até a pensar em... enviar um relatório. Mas desistimos.
PALACE: Pesamos prós e contras. Esmiuçamos a questão com muito vigor.
SARA: Pra que se envolver em mais intrigas?
PALACE: Desestabilizar a nossa frente, assim.
SARA: Não valeria a pena.
PALACE: Não queremos que você seja eliminado, afinal de contas.
SARA: Estivemos juntos por tanto tempo. Nossa aliança...
PALACE: Nós temos algum senso de lealdade. É o mínimo que podemos fazer, não é? Não promover sua eliminação.
SARA: Todo mundo comete erros, afinal.
PALACE: Se você se desiludiu da causa libertária, se você resolveu abandonar tudo, de uma hora pra outra...
SARA: A escolha é sua.
PALACE: Perdoar é divino.
SARA: Mas nós não precisamos mais de você.
PALACE: A partir de agora, você está sozinho.
SARA: Estamos por nossa conta e risco, agora.
PALACE: Você segue em frente.
SARA: Por favor, não faça essa cara. As evidências eram incontornáveis. Nós temos um dever, nós temos o dever de não contornar evidências incontornáveis.
PALACE: Não dá pra continuar com esses joguinhos.
SARA: Você sempre falava... o dever isso, o dever aquilo. Pois então. Você entende, não é? Você entende?
PALACE: Ele entende, Sarinha.
SARA: Não sei...
PALACE: Não. Ele entende.
SARA: Ele não parece estar entendendo.
PALACE: Ele está entendendo.
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