domingo, 24 de maio de 2009
Apostila de Mitos e Práticas
I.
aos canhões prestes a estourar
escusa fazer muita atenção
foi assim que o Vô Tirelli
perdeu a valia do ouvido esquerdo
uma esquadra inteira se incumbiu
de recuperar a bala. Derreteram-na &
deu neste régio cinzeiro
tronado sobre a arca do living
ao lado da Bíblia aberta em Isaías
(contava-se o tempo de menos)
II.
a Sereia cantou
Vô Tirelli – mão
em concha – pediu
que ela mirasse no ouvido bom
a Sereia veio do Sertão
à sua quarta primavera
teve um desfalecimento
proclamou-a morta
o pároco da cidade
durante o velório quis beber
um copo d´água e levantou-se
do caixão, ceifou de susto
uma das carpideiras
“Quanta Vela!”
casaram-se
III.
três vezes rebentaram
uma minha mãe
(mas todos os rebentados
em dado momento
bateram cinzas no cinzeiro
sobre a arca)
ah, sim, a arca
já ia me esquecendo
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5 comentários:
O espaço que a sua poesia deixa para a imaginação do leitor a torna ainda mais especial. Tudo permanece em suspenso.
"Absurdamente" lindo!
SB
Ismar, faz tempo que não te deixo comentários, não é mesmo? (diz que sentiu falta) Mas nunca o deixo de ler. Esses dias, comprei uns quatro livros de autores desconhecidos, numa feira de sebos na Carioca. Já li um tal de Sylvia não sabe dançar que me fez lembrar muito da sua escrita. Sinto falta de teus escritos para o teatro. No mais, ao meu pouco abalisado ver, tua qualidade só tem crescido. E beijo!
Aquele cinzeiro tem mesmo esse poder de despertar os tempos imemorias e torná-los ainda vivos.
Ismar!
linkei seu blog no meu novo/velho diário.
cartasdoestrangeiro.blogspot.com
beijoca,
juliana
calou fundo, hein.
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