sexta-feira, 22 de maio de 2009

Pedro Espantaléon


sorte grande quem a teve foi Haroldo, meu irmão
(Haroldo Espantaléon)

que estar vivo tem das suas. Imagine
(visione) você, certa feita, durante
minha temporada na Academia Taittinger,
não conseguia pegar no sono e
achei por bem assombrar os corredores
do velho casarão, nu
e repentinamente esquecido
de que poderiam me apanhar,
e me apanharam, sim, pois que
me viam (era o único argumento
de que dispunham), e me arrojaram
sobre o corpo uma manta macia,
axadrezada,
e me conduziram, entredentes,
a uma saleta contígua ao escritório principal,
onde me sentaram numa cadeira de espaldar
bastante reto, prepararam um escalda-pés
e me deram de beber um cálice
de conhaque para que o sangue
retintasse as faces, e me disseram um
punhado de coisas que,
se as recordasse, seriam muito doces
e vomitivas,

sorte grande quem a teve foi Haroldo, meu irmão

que morreu

e hoje vive a rondejar todo contente
o hall de entrada do edifício

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