sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Bárbara (parte de um monólogo)


"Mas eu me acho meio brutamontes. Um pouco, que seja. Sei lá – há coisas nas quais eu acredito, outras nas quais eu não acredito. É meu, eu não deixo ninguém tascar. (...) Não acredito – em dizer duas vezes a mesma coisa. Não gosto. Nem em nada que seja... ou que se pretenda duradouro. Não gosto de me repetir, acho perda de tempo. Só gosto das primeiras vezes. Quando ainda tem alguma coisa pra dividir, quando é descoberta. Como as cores. Cada vez que eu vejo uma cor é como se fosse a primeira vez. A primeira cor, a primeira vez. Isso nunca mudou. Eu não entendo as coisas quando elas se impõem. Que nem você disse: “eu não presto atenção”. Só existe um momento de união entre as pessoas, é a exploração, é o desvelamento. Depois de um tempo, as pessoas... derivam umas das outras, cada um entra pelo outro e vai seguindo sozinho, sozinho. (...) Eu não acredito em conhecer as pessoas. Não do jeito que as pessoas parecem acreditar. Eu acredito que todo mundo tinha mais é que se deixar em paz, mesmo, porque depois de um certo... tempo, não tem mais nada lá. Mas com carinho. Sempre. Eu acredito nisso, também. Carinho. Eu não acredito em – culpa. (...) Eu não acredito em hedonismo. (...) Eu não sou romântica, eu sou realista. O que eu chamo de realista. Uma vez meu pai me disse que não adiantava nada ter os pés no chão se o solo era de Marte. (ri)(...) Fazer o quê? A Terra já deu tudo que tinha pra dar."
(outro trecho do "Abecedário")

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