sábado, 6 de setembro de 2008

Poema Que Lars Stephan Nunca Vai Ler


(isso é o Lars Stephan. ele tira fotos de si próprio. como vocês podem reparar, ele é bastante bonito, e ele parece sofrer uma consciência agudíssima de ser tão bonito. abaixo, um poema leviano escrito em sua homenagem, que eu posto aqui única e exclusivamente porque minha rumeite está escutando "In a Sentimental Mood" e hoje é meu aniversário, e estou me sentindo indulgente, como quem faz carreira de tirar fotos de si próprio)

se o ano é mil novecentos e cinqüenta e dois e sou um para-quedista prestes a saltar dum avião e à soleira desse céu azul e gáseo eu berro – dando guerra a esse céu azul e gáseo – ANTÍNOO!

e salto. É bem possível
que eu me esborrache. Você não devia
ficar peregrinando por aí como se a beleza
fosse coisa tão nova. Não se deve negar
à beleza uma história. Um passado.
Por que você fica saltando de país em país
como se a beleza fosse boletim divulgado
semana passada? Que empáfia

você vai me beijar agora? Não? Olho para minhas sandálias
olho para a ponta do meu dedão coço a virilha
discretamente. Você vai me beijar
agora? A beleza não é coisa assim tão nova.
Campear a própria beleza não é coisa assim
tão nova. Veja esse postais. Veja esse polígono. Veja That Boy,
com o Peter Berlin. Você
balão o hélio de sua própria beleza, será
sua voz idêntica a daqueles esquilos de desenho animado?
Você me entoará, com voz de esquilo de desenho
animado, vou te beijar agora? Você sobreviverá
ao advento do cinema falado?

Eu acendo velas aromáticas peço um
jantarzinho frugal no restaurante aqui do lado
finjo que passei horas escravizado na cozinha – e agora
você vai me beijar? Eu estou tão feliz eu estou tão feliz
gasto meio rolo de papel-toalha enxugando as lágrimas
eu sou pobre e, como você já deve ter reparado, não há
um espelho sequer nessa casa. Não há um espelho sequer
nessa casa. Pare de procurar.

Você é tão bonito eu quero jogar lírios caixotes e garrafas meio cheias de vinho
em você quero esconder suas roupas e te apresentar à minha bisavó Carmen
quero que você descubra a pistola escondida debaixo do meu travesseiro
e chore e peça que eu vá a um psiquiatra.

Agora, só me apareça aqui de novo quando o café estiver pronto. Não, a beleza não
é coisa tão nova assim. A certos ângulos, ela é até bastante vulgar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Algo como Narciso e água suja.

Anônimo disse...

O cara é gato e sabe como usar isso. O mundo hj só qr isso, meu amigo: só corpo. Ponto-final.