domingo, 24 de agosto de 2008

Violência


estou andando na rua
de noite
sou assaltado
por um menino
estrábico
não reajo

um homem está andando na rua
de noite
e vê
diante de si
a coisa de dois
passos
um sujeito sendo
assaltado por um
menino estrábico
ele não reage

o homem se acerca
do sujeito que acaba de ser
assaltado
pergunta:
por que você não reagiu?
o sujeito por sua vez
o eu
que a tudo empalidece
pergunta para
o homem: por que você não fez nada?

à guisa de crítica
o homem sarrafa o sujeito
que acaba de ser assaltado
(o eu
que a tudo empalidece)
por não ter reagido
desce a mão
uma única vez
pelo corpo
que não é indefeso
que é corpo de omissão
o homem desce a mão
no sujeito
o homem faz por uma
pedagogia inédita
mas talvez
a mais velha do mundo
diante da pequena
ferradura de passantes
que acaba de se formar

o sujeito que levou o safanão
parado (o corpo omisso
quase – mas quase
recolhimento
uma das mãos levantada)
mira remira as pessoas
bem diante de si
e bem diante do eu
e bem diante
da carapaça salgada
à roda dos olhos
um homem de capacete
com o visor levantado
está rindo
e não pára
de rir e
não pára
talvez nunca mais
um renque
de quadradinhos de mármore
bem diante de si
ele não reage

2 comentários:

Anônimo disse...

não consegui reagir lendo teu poema.
mantenho os olhos na tela e vejo a cena.

helena disse...

gostei muito dos teus poemas, Ismar.
aquele do apartamento que está nas escolhasafectivas, é de morrer.
abraços!