quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Hilda


"De muito pequena Hilda aprende que Deus é lugar – nem gente nem coisa. Isso lhe dá alguma confusão, o que é natural, ser pequeno é sempre e forçosamente um baralhamento louco de tudo que se apresenta. Mas à guisa de exemplo: um irmão de seu pai mora em Curitiba, num bairro chamado (!) Cristo Rei. E mais adiante, questões de paternidade: se a tia (que é quem mais lhe fala nessas coisas) insiste em que todos são nascidos de Deus (que é, como já se disse, um lugar), então por que todo esse alarde em torno de Jesus? Judiaram dele um bocado, isso se entende; lá na cruz fez frio, fome, sede, sem falar nas pancadas que ele apanhou na Rua Crucis, que era caminho pro Monte Sinai. De fato, tanto fizeram que ele acabou morrendo. Mas! Uma reviravolta (Murilo acha essa palavra estúpida). Ele desmorre, faz questão de desfilar por aí e mostrar pra todo mundo (isso lá pela Páscoa), o que parece ter causado certa espécie. Não obstante, fogos de artifício, porque ele (ao que lhe consta) só voltou pra dizer que estava de parte outra vez."
(do conto "Hilda")

2 comentários:

Anônimo disse...

"Da primeira vez que saí da sua casa eu estava tão feliz sabe eu tomei um picolé de limão."

Há frases boas e há picolés de limão.

grande abraço saudoso
Paulo

Sergim disse...

Você não se emenda..."A god among the monsters!" Perfeição!