“Alguns estranhos batiam à porta e inventavam uma razão para entrar: digamos uma chamada para o 'A Triplo', sobre um carro invisível. Outros apenas abriam a porta e entravam e eu deparava com eles no saguão de entrada. Recordo-me de haver perguntado a um dos tais estranhos o que desejava. Olhamo-nos por um espaço de tempo que me pareceu longo, e então o desconhecido viu meu marido no patamar da escada. 'Frango Delicioso', disse finalmente, mas não havíamos pedido nenhum 'Frango Delicioso', nem ele carregava algum. Anotei a placa do seu furgão. Parece-me agora que, durante aqueles anos, eu vivia tomando nota de placas de furgão, furgões circulando pelo quarteirão, furgões estacionados do outro lado da rua, furgões atravessando lentamente um cruzamento. Guardei o número das placas numa cômoda de roupas onde a polícia pudesse achar quando surgisse a ocasião”.
(Joan Didion, “O Álbum Branco”)
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