Entendo onde se quer chegar com “pele acetinada”. Até há pouco me convencia de que era só mais um brinquedo de dizer, cantilena de quem não pode com as asperezas do outro. No que se teia (sempre imaginei, não sem certo desespero) essa seda sem saída pro tanto de verdade que corre lá fora; que o corpo deve a si próprio ser tão inóspito quanto a cidade. Mas a pele dele me objeta. Apresenta uma contradição, um ilogismo. Quando me encosto parece outra coisa, tanta suavidade que ela traz. Me digo (não precisava dizer): vamos, que pele é tecido: epitelial: todo furado pra que não falte ar aos órgãos, coisa que não se vê a olho nu. E o que anda dando na vista? Eu quero conseqüência daquela pele. Muito nítido eu querer conseqüência daquela pele. Que ela esteja bem perto caso eu me esqueça que lá dentro vive alguém que é muito vivo. Isso vai se refratando em telefonemas, nas conversas com os amigos, ou numa certa vontade de se distrair do sentimento assuntando o dito cujo com paixão de laboratório. Será que estão prestes a encontrar Deus? Inventam uma máquina, uma máquina capaz de alumiar as pausas, as secessões entre os ditos dos outros: e lá vai Deus. Esse meu medo: chegar em Deus (que é aqui que ele se desmede). Não se trata de fenômeno contra nem a favor da natureza. “Pele acetinada” só pode provir dum tear divino (senão). Mas sendo assim, como é que eu fico? Quando a metáfora empedra, vira prova irrefutável? Não se trata de minar a realidade com poesia, que é lide, que é trabalho o tempo inteiro. É a poesia que vem só e de repente, a poesia que a gente não faz. Tanta coisa sonegada ao olho nu, e tanta coisa urgente; mas meu desejo é estandarte, deve arder na vista dos outros que nem sal grosso, talvez uma cicatriz.
terça-feira, 4 de março de 2008
Pele
Entendo onde se quer chegar com “pele acetinada”. Até há pouco me convencia de que era só mais um brinquedo de dizer, cantilena de quem não pode com as asperezas do outro. No que se teia (sempre imaginei, não sem certo desespero) essa seda sem saída pro tanto de verdade que corre lá fora; que o corpo deve a si próprio ser tão inóspito quanto a cidade. Mas a pele dele me objeta. Apresenta uma contradição, um ilogismo. Quando me encosto parece outra coisa, tanta suavidade que ela traz. Me digo (não precisava dizer): vamos, que pele é tecido: epitelial: todo furado pra que não falte ar aos órgãos, coisa que não se vê a olho nu. E o que anda dando na vista? Eu quero conseqüência daquela pele. Muito nítido eu querer conseqüência daquela pele. Que ela esteja bem perto caso eu me esqueça que lá dentro vive alguém que é muito vivo. Isso vai se refratando em telefonemas, nas conversas com os amigos, ou numa certa vontade de se distrair do sentimento assuntando o dito cujo com paixão de laboratório. Será que estão prestes a encontrar Deus? Inventam uma máquina, uma máquina capaz de alumiar as pausas, as secessões entre os ditos dos outros: e lá vai Deus. Esse meu medo: chegar em Deus (que é aqui que ele se desmede). Não se trata de fenômeno contra nem a favor da natureza. “Pele acetinada” só pode provir dum tear divino (senão). Mas sendo assim, como é que eu fico? Quando a metáfora empedra, vira prova irrefutável? Não se trata de minar a realidade com poesia, que é lide, que é trabalho o tempo inteiro. É a poesia que vem só e de repente, a poesia que a gente não faz. Tanta coisa sonegada ao olho nu, e tanta coisa urgente; mas meu desejo é estandarte, deve arder na vista dos outros que nem sal grosso, talvez uma cicatriz.
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2 comentários:
tá vendo, não foi à toa que tive conjuntivite semana passada. :)
entendo onde se quer chegar
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