sábado, 17 de novembro de 2007

Anita (parte de um monólogo)


"Tão duvidando? EIN? Tô indo pra Grécia AMANHÃ, ha ha. Foda-se. Foda-se. Tem um limite, tem um limite pra tudo. Tem um limite. Isso, então. Pago minhas contas, não devo nada a ninguém. (...) Eu sou uma mulher de meia-idade. Praticamente. Nada me impede. NADA. Nada me impede de fazer um cruzeiro quando eu quiser e bem entender, eu sou uma mulher de meia-idade. Vou pintar as ruínas. É isso. É isso aí. Dias tostando naquele sol e pintando as malditas ruínas. Praia e ruína, ruína e praia. (...) Eu não agüento mais. Eu não agüento mais nada. Dá pra entender isso, né? Não é tão incrível assim, né? Quando as coisas chegam num ponto em que... nada... uma mulher da minha idade está no direito de ir pra Grécia a hora que ela quiser. (...) Eu tô dizendo, se eu ficar mais um mês nesse país eu vou explodir. Eu não agüento mais essas pessoas. As pessoas lá fora, eu não agüento mais as pessoas lá fora. Eu estou pegando PAVOR de tudo. Se eu ficar mais algum tempo aqui eu vou acabar num hospício, é tudo que eles querem, que eu acabe num hospício logo e pare de encher o saco, aí, que beleza, todo mundo vai poder dizer é, ela não deu conta mesmo, coitada. COITADA PORRA NENHUMA. Quero ver me chamarem de coitada quando eu estiver lá, de vestidinho florido, em Creta, toda brilhosa, bebendo vinho e vendo o pôr-do-sol, HA HA. Quero ver a cara. (...) Vou mandar postais. Pra todo mundo. Lindos. Postais lindos pra TODO MUNDO QUE EU CONHEÇO. Das ruínas. Vou mandar pra mulher do Paulo um postal de Atenas, quer ver? Mando mesmo. Ou uma foto minha fazendo a dancinha do ZORBA na praia, atrás escrito quem é a coitada agora, EIN? Coitados são eles. todos eles. Coitados são eles, eu não sou coitada, vou pra Grécia. Amanhã. Amanhã eu embarco. Me enfio num balde e vou clandestina que nem filme dos irmãos Marx. QUER VER? QUER VER? (...) Eu não suporto mais. Eu – não – suporto – MAIS."
(outro trecho do "Abecedário")

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