segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Quando Ele Vai Embora


Gostaríamos muito que ele não fosse embora com tanta freqüência. Só nós, aqui, sem ele, não tem como saber exatamente, ele é descontínuo. Há também a questão das espreguiçadeiras. Sendo o mais velho de todos, compete a mim levá-las de volta para a garagem na manhã seguinte, antes que a casa acorde, dobradas e empilhadas perto das caixas que não abrimos mais, fazem uma vontade danada de perguntar por quê, o que posso por mantê-lo assim quartzo, mica e feldspato, o ato de levar as espreguiçadeiras de volta para a garagem, eu faço, mas de vez em quando não dou conta, raia uma vontade danada de perguntar as coisas, de tentar entender, pelo menos, lembro de sairmos todos ao jardim certa vez, esperar o sol nascer, peneiras às vezes de máscaras, o elástico atrás das orelhas coçava. Ficamos aqui, dizendo um pro outro que sim, foi só o vento, Ada sugere o pôquer, para dar cabo de algumas horas não há coisa melhor que o pôquer, mas no fundo, no fundo, não seremos jovens demais? Será que não fizemos outra coisa que não esperar, esse tempo todo? Largamos nossos anos mais sólidos pelas vésperas. Nas frinchas e cotovelos do tempo. Ali um bocado, ali outro. Vejo que Artur está no alpendre outra vez, por favor, Artur, nesse frio. As barcaças jogando no longe que não quebra nunca, nunca, gosto de sal. Faço chocolate quente, o meu com um fio de uísque velho que eu não conto pra ninguém, as toras estalam na lareira, quando damos pelo toldo de noite já não temos mais nada a dizer. Recolhemos as fichas.

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