quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Xícaras
vou passar minha vida inteira
quebrando xícaras
sem saber o que fazer
de pés e mãos
quando dizem
a casa é sua
vou passar minha vida inteira
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
António Lobo Antunes
"Aos fins-de-semana, quando não saio com a minha prima Bé, fico em casa a ver televisão. Ver televisão quer dizer regar as plantas da marquise, ler o meu horóscopo nas revistas, desfazer o tricot do domingo anterior, mudar de canal de vinte em vinte segundos a pensar em matar-me."
(António Lobo Antunes, "A Solidão das Mulheres Divorciadas")
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Notas Sobre Uma Peça
Proscênio: o velho doente na poltrona
(estofo frangalhado).
Ao longo do monólogo introdutório é conveniente
brandir uma bengala, ou cajado, contra a platéia,
e que os braços se movimentem obedecendo certa lógica do espasmo
(faux imperioso, jamais caricatural
autoridade em bancarrota
referência: Strindberg, “A Dança da Morte”).
Importante salientar também que sua fala
(dicção antiquada, radiofônica
atentar nos erres)
deve a intervalos mais ou menos regulares
tornar-se ininteligível
pastosamente ininteligível
por conta dos repentes de
extrema dor física.
Direita-palco banhada em luz vermelha
à vinda da enfermeira
(deixa: um espasmo bem forte
faz a bengala, ou cajado, voar longe
esquerda-palco – Marília!)
(a dor torna-se praticamente insuportável
quando ele diz: “pensei que passaria meus
últimos dias
perto de gente
menos cretina.”)
Imprescindível sincronizar
som do porrete atingindo crânio do velho
com cortina
e fanfarra militar (explosão).
I.
"não poderia jamais exercer um perfil de I., porém, uma panorâmica de I., isso se pode exercer, uma malha de cenas, esquetes, vinhetas, coisas de I. que posso dar a vocês mas que, não posso deixar de admitir, estarão sempre subjugadas ao perfil de I. que não posso, nem nunca poderei exercer. O que dizer disso? Não faz a menor importância, não, a importância não se faz entre vocês, muito embora me atormente, muito embora me ponha em fúria contra I., que especificou em seu bilhete de suicídio, que não era tanto um bilhete, mais uma novela de suicídio, que deixou lá, com todas as letras, ESPECIFICADO, que ninguém deveria fazer seu elogio fúnebre a não ser eu, que cada qual tem a sua efígie de I. a queimar nessa praça tão repugnantemente pública da morte alheia. Mas eu dizia, uma panorâmica de I., é como se encontrar em território do próprio, todos os presentes certamente se recordam da paixão de I. pelo cinema, se não me engano, quando de seu quando de sua passagem MORTE quando de seu não estar mais aqui I. estivera roteirizando filmes de baixo (quiçá inexistente) valor artístico sob pseudônimo e gastando seu ordenado em livros que só leria daqui a vinte anos, artigos de vestuário antiquados e
daqui a vinte anos I. continuará não estando aqui, mas será diverso, isso, uma modalidade mais generosa de não estar mais aqui – I. será o eco rematado de I., a lembrança da lembrança dum rebôo que tremeu certa noite de março, nesta outra noite de março semelhando, é estranho, um veludo de carícia pluma ou mesmo unha quando dela se sabe fazer uso apropriado, um correr de dedos por sobre a idéia que cismamos em fazer de alguém ou qualquer coisa, I. nos será tão próximo quanto um estranho com o qual esbarramos na saída da Carioca indo pro trabalho, I. será tão acariciante quanto alguém que se esqueceu
é possível fazer cinema de I., mas vale a pena fazer cinema de I.?"
(trecho de "Elogio Fúnebre Ao Amigo Que Se Matou")
sábado, 12 de janeiro de 2008
Francisco Alvim
Entrevista
Mandei a carta
sem muita esperança
Não sei direito o que pedir
Ela me disse que deixasse filosofia
(minha vida estava toda errada)
Me ofereci para fazer a limpeza do foyer
e me pegaram para organizar uma biblioteca
É disso que venho falar
Não da carta
que muito me surpreende tenham lido
O que eu queria é mais um conselho
Alguém que me ajude a sair de onde estou
A viagem foi uma boa coisa
me fez crescer tornou-me menos indeciso
Se não for possível uma bolsa em filosofia
em história serve
Se não for possível bolsa
talvez uma outra ajuda
Preciso voltar
meus pais já estão bastante velhos
(Francisco Alvim)
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
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