O folclórico ano de dois mil e oito chega ao fim. Uma trouxa momentosa de meses. Agora, olhando para trás, as coisas começam a ensaiar uma clareza: a maior parte das lembranças me vem com certo ar de parem as rotativas, isto está acontecendo!, e me impressiona fundo que tudo esteja diferente, transfigurado, quase, em torno de qualquer coisa muito igual. Claro, os elementos da equação não se alteraram de todo, eu ainda só tenho isso aqui para lavrar. E eu poderia tecer críticas as mais impiedosas quanto a meu próprio desempenho nesse esquema. Mas acho que não é o caso. Acho que estou satisfeito. Estou na medida do possível. O momento emergencial está para, e eu ainda muito lento, especulativo, tentando – com muita força – aprender o que quer que seja. Fim de contas, isto tudo é de uma fragilidade absurda: o que se dá, o que está se dando neste exato instante. Então, enquanto ponho este balanço abaixo, não me escapa o quão exato foi o ano de dois mil e oito. Os outros, os precedentes, comparados com este, me fazem uma certa impressão de gosma. De indistinção. Agora não. Qualquer coisa como um rumo começou a se traçar, e eu honestamente feliz de estar seguindo algum caminho (e basta passar dez minutos na minha companhia para perceber que eu tropeço, bastante, o tempo inteiro).
O que segue é um sujeito confuso, caudaloso e, no mais dos casos, um tanto leviano. Começo a acreditar que escrevo por pura falta de senso prático. Outro dia quase me arrisquei num axioma: poesia (expressão artística) é tudo aquilo que não se resolve. Contraparte do bom e velho o que não tem remédio, remediado está. Tudo que não sei dizer o que é, toda a estranheza, tudo aquilo que não permite imparcialidade.
As gentes são uma maravilha crassa. Um embrulho no meu estômago de avestruz. Perdi as contas de quem vai, de quem vem, mas gosto de acreditar que estive agente. E nos últimos meses, até prestar alguma atenção eu prestei. Sim, nestes últimos meses as pessoas me falaram coisas (veja você). Elas sentaram e conversaram comigo e me explicaram. Fiz notas num bloco. Depois eu mostro. Prometo. Prometo.
Dois mil e oito passa sem panegíricos. No laudo pericial, nenhuma gracinha. Causas naturais. Foi lá e pimba, empacotou. Um suspiro ao de leve, um acomodar-se na velha poltrona bege, cálice de vinho do porto nas mãos. Imagino que a tranca é uma prece dita muito baixo, sem solenidade, uma emoção (!) sincera. E que 2009 – sim, leitor, é contigo mesmo – seja um ano de sacações incríveis e ação descarada. Foco febril e noitadas sensacionais. Alegria besta e amores errados. E dinheiro. É, tem isso também.