sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Todo um Momento



(da mão que eu não escrevo pra direita: Augusto, Bruna, eu, Mariano (de camisa vermelha), Domingos e Alice. E o macarrão tava uma belezura).

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Pinter




Poem

The lights glow.
What will happen next?

Night has fallen.
The rain stops.
What will happen next?

Night will deepen.
He does not know
What I will say to him.

When he has gone
I'll have a word in his ear
And say what I was about to say
At the meeting about to happen
Which has now taken place.

But he said nothing
At the meeting about to take place.
It is only now that he turns and smiles
And whispers:
'I do not know
What will happen next.'

***

Meus heróis morreram de velho mesmo.

Dezembro, II


nesta estação
balnear onde
tudo se lanha, onde tudo
tem ponta e se empenha
em lanhar, tudo se empenha
em lanhar-se, nesta estação balnear
onde tudo se repete, onde
tudo se lanha de repetições,
onde tudo maquina uma cura,
onde as engrenagens, os carris dentados
laboram incansavelmente por uma
cura, onde as máquinas nos querem
curados e repetem-se, os carris dentados,
a hipnose dos carris dentados, estes giros
sob o solroda, estas voltas sob
o solroda, esta correia invisível, esta
ciranda maquinal sob o sol, roda, nesta
estação balnear ex machina

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Dezembro


a todo o tempo
as coisas vêm

a um lume frio
zumbindo corredor fora

torres, fortes
espelhados, arranhaduras
em nuvens fugidas

(ninguém me convence
de sua inocência)

um talho seco
no céu, expediente
duma aridez incalculável

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Amígdalas


estou na Televisão
mas isto são folias de óptica
estou contra o escuro de pijama verde
verde refletido de pedras preciosas ou de águas
que banham costas as mais exóticas
o verde há de me lembrar qualquer coisa

doem-me as amígdalas
como que encruadas de pedras preciosas
pejo precioso que faz
silêncio
estou contra os lençóis mornos
mantas como bichos preciosos
que mortos viram
mantas
e fixo em meu próprio silêncio
estou contra a imagem que me faço
de esquimó
como Anthony Quinn
em fita de Nicholas Ray
caso é que as palavras
não são assim tão poucas
tampouco assim
sorridas

por exemplo
leio no jornal
os ursos brancos estão condenados
não hão de durar
o século fronteiro
nada fizeram de mal
os ursos brancos
nada fizeram de mal
os que não vão durar
o século fronteiro
mas estas mãos

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Testamento


se um belo dia eu morto e resolverem
pois não publicar um volume de
minhas Obras Completas faço eu
onde quer que esteja muito gosto
que o livro fazendo a fineza se chame
Desemprego.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Consultoria Sentimental Arthur Rimbaud


"Ora, você ainda não reconheceu que as raivas eram falsas tanto de um lado quanto de outro! Mas os últimos erros são seus, pois mesmo após eu o ter chamado, você persistiu em seus falsos sentimentos. Acredita que sua vida será mais agradável com outros que comigo: Reflita sobre isto! -- Ah, certamente que não! -- Apenas comigo você pode ser livre e eu juro que serei mais gentil daqui em diante e deploro toda a minha parte nestes erros. Tenho enfim o espírito livre, gosto de você; se você não quiser voltar ou que eu vá até você, será um crime e você vai se arrepender por LONGOS ANOS pela perda de toda liberdade e por sofrimentos talvez mais atrozes que aqueles pelos quais já passou. E agora, medite sobre o que você era antes de me conhecer."
(carta de Rimbaud para Verlaine, 5 de julho 1873)

sábado, 6 de dezembro de 2008

Bodas


Vinicius de Moraes está morto Vinicius de Moraes morreu e foi para o inferno Vinicius de Moraes morreu e foi para o inferno e o inferno é um elevador o inferno condado que não se usa conjugar em outro tempo que não o tempo presente é um elevador Ele sobe com um pequeno soluço com outro pequeno soluço ele desce: as portas não se abrem jamais mas Vinicius está sujeitado aos compromissos dos demais hóspedes aquartelados neste presume-se imenso hotel Vinicius está aqui eternidade fora ouvindo as pragas entrecortadas dos demais hóspedes que batem de punhos às portas do elevador do inferno e justo agora que a eternidade em todos os seus estratos se lhe desvela Vinicius não pode escrever um poema assuntando todos os estratos da eternidade porque não há estilográficas no elevador no inferno nem lápis nem batom e dentre as coisas que não há no elevador no inferno contam-se igualmente uísque mulheres transatlânticos a rigor não há nada salvo Vinicius marchetado no espelho no elevador no inferno e essa máscara cuja ideação tomou-lhe anos sem falar da própria prática e do constante refinamento da mesma essa máscara está pegada a seu rosto e não sai mais Vinicius suspira ectoplasmático este que não é ao menos eu e contudo o que escolhi por mortalha este funesto dominó que não sai mais que não sai para nunca mais Vinicius geme e com um pequeno soluço o elevador desliza lento até o quinto andar e uma série de cruzados de direita nas portas fechadas do elevador do inferno eia isto é ponto pacífico que Vinicius de Moraes está morto pode-se considerar o assunto encerrado Eis tudo no coração de cada jovem enamorado um elevador sulfuroso

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Poema Matutino Escrito De Noite


quando em quando extrata-se
um grande provérbio
um grande adágio-em-gérmen
dum gato faltar
ao telhado que faz
frente à minha janela, (quando
em quando) alguém
que eu não sei quem
morre – inevita-se, mais precisamente
há duas semanas e meia, hoje
eu e a torcida do Flamengo
não aprendemos
nada que já não nos
pertencesse, acho que vou
tomar um banho e seguir
circulando (os círculos são
eternos) os Classificados