sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
Volta
terça-feira, 24 de novembro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
Largo
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Iodo
os grampos, as canetas como prumos
sábado, 26 de setembro de 2009
A felicidade dos outros
você a toma surdamente
o cristalino dos olhos não faz
nada por sua força
em março ele não amou
nada que te acorresse à boca
em março nenhuma
aspiração tátil
você pensou como pesava
a seca de estrelas
fins de julho uma febre
que não oficinou coisa alguma
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Caderno 37
um dia, pretendo descrever esse quarto.
domingo, 20 de setembro de 2009
Duas Notas Detrás De Canções
1. Vedrai Vedrai
direi ao menino lento
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Hoje
Hoje o "Synchronoscopio" faz um ano de idade, e tem inédito meu no blog da genial Butt Magazine.
Então, está tudo oquêi.
Faxinamos a Casa
domingo. Faxinamos a casa,
levando o mais bojudo dum dia
margarina. Não foi decisão consciente.
Não, deve ter sido. Nós
faxinamos a casa. O tempo inteiro
recapitulando
amantes distantes. Amantes
mudam-se em terra enquanto
os recapitulamos. Amantes a despeito
de si próprios feitos Terras Amantes,
esmagados ao longo do horizonte, longe. Finas linhas
canetadas para que pudessem dormir. O sol se põe
detrás de amantes feitos Gigantes Puídos, cochilando.
E então aquela infame linha bamba do Equador, incontinenti
visível. Corusca. E amantes
mudam-se em grandes bocados de terra e
fios a uma distância discreta
domingo, 9 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
O Convidado Inviável
"A nítida sensação de que eu pairava sobre aquilo tudo. Desdobrado em evoluções incríveis (mesmo que imperfeitas) e apartes espirituosos. Perfeito domínio do palanque. Coisas que a gente vai perdendo em ganhar vergonha na cara. Trata-se duma vida dupla, afinal. E agora a vontade de união – de levar uma vida minimamente conjugada – começa a repontar, faz com que os olhos passem raspando e se preguem no chão felpudo. Bolino com o microfone à frente; sempre o mau-contato. Uma matilha de jovens não-empresariados. Falando verdade, uma matilha de jovens não-empresariados emblema bem pouco no grande esquema das coisas. Mas há um agravante (como se isso tudo já não bastasse). Mesmo em piloto-automático, eles têm extensões visíveis. Instrumentos, algo que mostrar. São teclas, cordas, tum-tuns. Objetos. De repente estou muito sozinho com meu instrumento embutido, tanjo tão mal esse bicho, não consigo integrá-lo. Torná-lo parte desse desenho teso e bem-amarrado. Minha voz é um convidado inviável, subido do inferno para avacalhar com um civilizado debate acerca dos rumos do pop. Não suporto mais sua evidência."
(trecho de "Por que não sou músico", texto que estou terminando de jambrar para um projeto colectivo bem bacana sobre o qual falarei mais em seguida. Bem como outras tantas novidades.)
terça-feira, 7 de julho de 2009
As Cantigas Que Eu Ouço No Escritório, 3
"I don't know what I should be looking at
But I will look wherever I'm told
BITTE ORCA ORCA BITTE"
domingo, 5 de julho de 2009
autônomo
não tenho os papéis. Como profissional autônomo,
é dever manter-me aberto e espacioso
entre os quatro tubarões desta espera. Que decidam minha vida:
por exemplo, uma transferência
(haja vista o placar em que se corre)
parecia-lhes fora de questão. Ao fim e ao cabo.
Oferecem-me o último turno. E aceito,
não me sinto tão à mercê. Faz três
madrugadas neste escritório branco
tenho medo pela primeira vez;
a estridência branca das luzes
& os canos que continuam teto fora. Não tenho
os belos chamamentos para fixar
coisa alguma. Será com esta mesma impaciência.
Tanto ódio haverá constelando
dentro de mim que me permitirei o trato
com as mais velhas imagens. Aquela sombra,
por exemplo, fará metástase.
Será com este mesmo inverno.
Tomarei vistas do céu quando
de alguma alva burra
à roda de todas as fitas em Preto e Branco
carceradas nas tevês da cidade; tanto ódio
haverá. A cidade – ao fim e ao cabo – a mesma.
Pretenderei a ela e quando tornar
à razão de meus amigos mais modelares
direi que o amor e o trabalho me renderam,
que nunca jogarei bombas na fachada do Ministério da Saúde,
que não encontro mais porquê em tantos die-ins.
Continuarei mentindo para os médicos
e adiando as segundas vias
sábado, 4 de julho de 2009
a cidade
para o Jablonski e para o Lesage
debussy é a cidade. está em movimento. uma série de deflagrações na forma. não dá em parte alguma. uma série de deflagrações na forma, não passam sem a forma. não abdicam da forma (monarca convulso), a forma se agüenta. não sei que mistério. que nem a cidade. uma série de deflagrações na forma, mas a forma (mas o trono) vai se agüentando, a forma vai se agüentando. não sei que mistério. é bonito, se move, não dá em parte alguma. debussy é que nem a cidade
terça-feira, 30 de junho de 2009
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Os Perigos da Juventude
I.
agora meu filho
tua juba
faz volutas
pateias
principesco savana
fora – já
II.
é tempo de decidir
III.
(afinal) quando fores
grande, o que queres
IV.
ser
V.
cosmonauta
ou bandleader?
sexta-feira, 5 de junho de 2009
não vai arrebatar nenhum prêmio
não vai arrebatar nenhum prêmio
um modesto coro
de fabricação caseira
cada pícola voz arremetida
a uma dimensão distinta
enquanto postergo (afincado)
a tradução dum artigo
acerca dos meninos Sambia
Papua Nova Guiné
sim, devo ser o agastado Maestro
seu sangue previdentemente esfriado
nos Alpes Italianos
daí a espalhada de anos, gerações até
esta graça doméstica
de devagar desfazer-se
a névoa subida da ducha quente
espelho do banheiro lento
em admitir um rosto
devo ser o agastado Maestro, sim
voltando de um dia duro de trabalho
enfurnado no porão duma igreja
(presbiteriana?), brandindo
meu bastão contra sua
juventude
as vozes quebradiças
mas não quebram
arremetem-se
cada qual a uma dimensão distinta
dando forja
a uma harmonia inteiramente acidental
inclua-se nisso os condes
apócrifos de há muito & será
alguma consolação
assobiar canções de pouca-ou-nenhuma
conseqüência, encantar-se das cores
antigas e muito marcadas
dos armarinhos?
estou desconsolado?
os meninos Sambia
só conquistam a hombridade
(= a guerra)
depois de anos bebendo o sêmen
dos tipos mais velhos da tribo
domingo, 31 de maio de 2009
Caption
conheço a vó
das voltas grossas
dos que só conseguem
escrever fazendo punho
fomos felizes aqui,
Recife, 1973.
Pelas margens
minha mãe e meus tios
pintam slogans
tardorevolucionários
domingo, 24 de maio de 2009
Apostila de Mitos e Práticas
I.
aos canhões prestes a estourar
escusa fazer muita atenção
foi assim que o Vô Tirelli
perdeu a valia do ouvido esquerdo
uma esquadra inteira se incumbiu
de recuperar a bala. Derreteram-na &
deu neste régio cinzeiro
tronado sobre a arca do living
ao lado da Bíblia aberta em Isaías
(contava-se o tempo de menos)
II.
a Sereia cantou
Vô Tirelli – mão
em concha – pediu
que ela mirasse no ouvido bom
a Sereia veio do Sertão
à sua quarta primavera
teve um desfalecimento
proclamou-a morta
o pároco da cidade
durante o velório quis beber
um copo d´água e levantou-se
do caixão, ceifou de susto
uma das carpideiras
“Quanta Vela!”
casaram-se
III.
três vezes rebentaram
uma minha mãe
(mas todos os rebentados
em dado momento
bateram cinzas no cinzeiro
sobre a arca)
ah, sim, a arca
já ia me esquecendo
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Pinter a Go Go
na cozinha o transcurso
desta outra cena: sua mão
enfaixada (queimou-se
com a sopa ontem à noite)
guinda até a boca outro
gole de café, as costas
para a pia, olhos nevoentos
na janela uma braça
de terraços foscos à volta
do edifício, sua planta
de espasmos discretíssimos
sobre o peitoril, nossas raízes
ondas arrestadas
pelos quatro cantos
da casa, o silêncio é de ouro
xxxxxxxxxxxxxxxxxum metal, de qualquer forma
Pedro Espantaléon
sorte grande quem a teve foi Haroldo, meu irmão
(Haroldo Espantaléon)
que estar vivo tem das suas. Imagine
(visione) você, certa feita, durante
minha temporada na Academia Taittinger,
não conseguia pegar no sono e
achei por bem assombrar os corredores
do velho casarão, nu
e repentinamente esquecido
de que poderiam me apanhar,
e me apanharam, sim, pois que
me viam (era o único argumento
de que dispunham), e me arrojaram
sobre o corpo uma manta macia,
axadrezada,
e me conduziram, entredentes,
a uma saleta contígua ao escritório principal,
onde me sentaram numa cadeira de espaldar
bastante reto, prepararam um escalda-pés
e me deram de beber um cálice
de conhaque para que o sangue
retintasse as faces, e me disseram um
punhado de coisas que,
se as recordasse, seriam muito doces
e vomitivas,
sorte grande quem a teve foi Haroldo, meu irmão
que morreu
e hoje vive a rondejar todo contente
o hall de entrada do edifício
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Roteiro Num Cardápio Úmido de Gordura
o impulso se haure do Hades
lá do Centro da Cidade, e correr
correr saltar à vara por sobre
os cílios trágicos do cavalheiro na mesa ao lado
descobrir vespeiros à ponta dos dedos
espatifar os copos tantos quanto puder
& logo em seguida – nem bem a vontade faz ato
de presença – abraçar longo o amigo onde os copos
foram de algum mistério se quebrar
domingo, 3 de maio de 2009
segunda-feira, 27 de abril de 2009
domingo, 26 de abril de 2009
Diretamente da Ilha da Madeira, Nosso Correspondente Ismar Tirelli Neto
Fui entrevistado por Margarida Patriota, apresentadora do programa "Autores e Livros", da Rádio Senado.
Para quem ainda precisa de provas quanto a minha absoluta falta de traquejo social, o áudio se encontra cá.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Bernadette Mayer
"34. Choose a subject you would like to write "about." Then attempt to write a piece that absolutely avoids any relationship to that subject. Get someone to grade you."
"39. Write a work gazing into a mirror without using the pronoun I. "
"44. Write a soothing novel in twelve short paragraphs."
"47. If you have an answering machine, record all messages received for one month, then turn them into a best-selling novella."
"72. Write a work that intersperses love with landlords."
(82 Writing Experiments, Bernadette Mayer)
Cigarreiras
muitas dessas coisas se passam
como se a Morte não nos implicasse, eu te amo
soa (arriscadamente) como correias se partindo
Olhando pra trás, o gato gigante sob o qual no outono me deito solta pêlos sobre os lençóis escuros
piche não chove, mas
uma cigarreira se abrindo num escritório
não consigo trabalhar. Volte
nenhum instante seco desde a noite aluir
terça-feira, 21 de abril de 2009
Tentando Traduzir LeRoi Jones
Como um possível amante
pratica
o silêncio, o modo do vento
estourar
sua primeira acalmada. Manhã fria
até a noite, vamos tão
vagarosamente, sem
pensamento
de nós mesmos. (Basta
ter pensado hoje
à noite, nada o
acaba. O que
você é, não terá
certeza, ou
fim. Que você
restará, onde está,
um gentil humano fio
de vida. Ah... )
praticaa solidão,
como uma virtude. Uma só
especiosa necessidade
de manter
o que você
nunca realmente
teve.
bursting
practices
loneliness,
(de "The Dead Lecturer", 1964)
domingo, 19 de abril de 2009
Isto Tudo É Muito Sério
"Holding to my cradle at the start
But now my hand is open
And now my hand is ready for my heart"
(Laura Nyro, "Timer")
***
"Arm in arm, we are the harmless sociopaths
oh, arm in arm with all the harmless sociopaths
in the calcium mines buried deep in your chest
oh, the calcium mines buried deep in your chest"
(Andrew Bird, "Oh No")
Todas estas maravilhas imóveis sob Vésper dentro // de abril!
(segue um apanhado de textos escritos com o único-umbigo propósito de me encorajar. A mim mesmo. A não parar de fazer coisas.)
***
NOS BALANÇOS
Contentamento;
Liberdade que
Não abisma.
Só me falta agora um cinto de segurança.
O quê?
Um cinto de segurança!
***
"E mesmo se não houver paz, por que não fazer algo do desassossego ? Também o tempo escorre por você. Há raias, há fronteiras, há limites – e agora olhe bem de perto, bem de perto, o seu próprio peito, se for possível. Há raias ? Limites, fronteiras ? Não. Você sabe que não. Estas são as verdades do mundo. Este é o tomo inaugural da sua vida. Você está AQUI e isto é tudo que precisa saber."
***
A um Cantor
Claro está que nada feito. Jogaste a tempo, perdeste. Jogaste a nervos, perdeste. ´Gora güenta a mão, José, que não lhe presta serviço nenhum prantear a hora morta. Respira a fundo (diafragmal, abdominal), não deixa o período quebrar, faz a canção surgir das costelas. Chegue de dentro; te aporte, te finque, te deixe inundar. Ajuda um conhaque, com raspa de gengibre. O que mais te serenar, visando ao bom abraço do inadequado, do dúbio, do quase. Outra ou uma nota há de rir-se das alturas, e o tom extraviado no dédalo de sons, mas não te inquiete. Chegue de dentro que o caminho vai na metade.
***
“nobody, not even the rain, has such small hands”
(e. e. cummings)
quando salto do elevador no terceiro andar, há um duto fortuito de janelas que me leva até a minha, esqueci amarela-ecologicamente-bronca antes de sair pra comprar cigarros. Parece ser o tempo da remenda, então vamos lá. Esse bocado você pula, se quiser. Não dou caução de que adiante alguma coisa. Isso não é pra adiantar, você que me lê tão de perto. Já devíamos saber disso, mas também, já devíamos saber de muita coisa. No confessions, please, sorri a Grande Dama daquela fita francesa ó tão Centro Cultural Banco do Brasil. E esse cummings é mesmo um pé em porta arrombada, ou pelo menos, imagino que seja. Desses poemas de sobrevida desconcertada em cadernetas margeadas, votos de casamento em gestação. Talvez o pessoal do escritório sentenciasse – old. Isso é tão old. Isso é tão velha guarda, isso é tanto rubricar sonhos com longínquas estações de trem, Leite Moça, tênis que não fazem bolha nunca. Claro que estou constrangido – mas até que ponto isso me safa?
“Nada é simples e tudo é bastante banal”. Detento/detentor dum sonho, de dentro dessas cadernetas margeadas onde os poemas de amor dos outros seguem devassando colheitas – falar. Sozinho. Po-e-mas-de-a-mor. Recuperamos o sentimento teoricamente (kitsch) porque parece inadmissível de qualquer outro jeito. Damos prosseguimento às canções porque somos generosos, somos bons de coração, e tudo, tudo é tão emblemático.
E que dizer do nosso escrúpulo? Chegamos a beirar o acadêmico, jaquetas de tweed com remendo de couro no cotovelo (“a pathological fix”), uma eloqüência francamente maníaca. Sabemos onde começam as coisas, intuímos onde vão dar. Razoamos tudo. Mas não conseguimos olhar um na cara do outro. Talvez não seja este o plano do Amor, de qualquer forma. Mas talvez seja absolutamente essencial olhar um na cara do outro. Talvez seja capital ("paramount") olhar um na cara do outro, e calar, se possível. Talvez não seja possível parar de falar - mas talvez seja possível olhar (um) na cara do outro. Pelo menos. De todo modo, é preciso fazer caminhos para abril. O mais cruel dos meses -- não necessariamente. Aqui, muito situacionado, é uma estação branda de sol e amenidade. Não necessariamente, mas (contamos com pelo menos duas pancadas de chuva por dia). O mais cruel dos meses? Por Deus, isso é tão old."
Il cielo non è piu con noi
e essas coisas de;
achar que torcem a meu favor ou contra
e de que tudo se resolve no último minuto -
é preciso não levá-las mais em questão
é preciso descer mais um (tão telúrico) Real
(e o poema esposa, afinal,
o trocado da passagem. Glória,
glória,)
e voltar p'ra casa
onde vez em quando sucede
um telefonema
vez em quando não
sobretudo não
me sentir melindrado
o poema deve, afinal,
acontecer
o dia
essas coisas de me melindrar
não, já não me servem mais
e essas coisas de
achar que estão contra ou a meu favor
e de que as coisas devem, no último instante,
(sabe?)
então, nada
tem a obrigação de se resolver
no último minuto
isto é cinema
isto é devastadoramente cinema
e estas coisas
são coisas muito peculiares
a uma natureza romântica. Eu não sou um tipo romântico.
Não serve mais ser um tipo romântico.
(Aleluia!)
não tenho mais tempo pra isso".
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Reality Roll
faz o mundo girar Inclusive às quartas
-feiras, um nó irreticente Penha branca
bem no meio da semana Ó, todas estas
maravilhas imóveis sob Vésper dentro
de abril! Hoje vi seis pessoas minhas
conhecidas andando pela rua
não cumprimentei nenhuma
Não tenho me sentido muito mútuo Ultima
mente Pela manhã me enroscar todo
sobre o capacho frente à casa dos teus pais
tiquetaqueando como uma colegial má-intencionada
& todos esses velhos amuletos guiando
minúsculos carros brancos pelas ruas da cidade
Andam dizendo coisas horríveis a meu respeito
durante a pausa do café Eu sei
com os cheiros e as manchas e os furos na camiseta
Eu, que costumava ser tão bom com nomes O
medo de perder o que já está perdido Tempo
bom, um poema deve acontecer
o dia
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Michigan J. Frog
G. pergunta:
o que tomo por amor
afinal?
ato contínuo brota
de meu casposo couro
cabeludo reluzente
cartola; da mão direita
uma bengalinha;
as solas dos pés
mudam-se em cascos
pouco depois G. torna:
você está sapateando – dá
pra você por
favor parar de sapatear? Eu te fiz
uma pergunta
com isso a paga da orquestra
fantasma; seus fraques sublocados;
a espalhada pela noite
de lotações; trens; ônibus
adentro
desço da cadeira
sorrindo ainda, & muito cioso
de que estamos num botequim;
plena esquina; Constante
com Nossa Senhora; ainda
não sei que Fúrias é isso,
(que tomo por) amor
Sontag sobre Leiris
“Em vez de uma história de sua vida, (Michel) Leiris nos apresenta um catálogo de suas limitações. A Idade do Homem não inicia com “Eu nasci em...”, mas com uma prosaica descrição do corpo do autor. Ficamos sabendo nas primeiras páginas da incipiente calvície de Leiris, de uma inflamação crônica nas pálpebras, de seu pobre desempenho sexual, de sua tendência a curvar os ombros quando senta e a coçar a região anal quando está sozinho, de uma traumática tonsilectomia à qual foi submetido em criança, de uma infecção igualmente traumática no pênis; e, subseqüentemente, de sua hipocondria, de sua covardia em todas as situações do menor perigo, da incapacidade de falar fluentemente qualquer língua estrangeira, de sua deplorável incompetência nos esportes físicos. Seu caráter também é descrito sob o aspecto da limitação: Leiris apresenta-o corroído por fantasias mórbidas sobre a carne em geral e as mulheres em particular. A Idade do Homem é um manual de abjeção – anedotas, fantasias, associações verbais e sonhos vazados nos tons de um homem, em parte anestesiado, que com curiosidade põe o dedo em suas próprias feridas.
O livro de Leiris pode ser considerado um exemplo especialmente vigoroso da respeitável preocupação com a sinceridade peculiar às letras francesas. (...) Mas analisar o livro de Leiris apenas sob este aspecto é fazer-lhe uma injustiça. A Idade do Homem é mais estranho, mais cruel do que tal parentesco sugere. Muito mais do que qualquer confissão revelada pelos grandes documentos autobiográficos franceses sobre sentimentos incestuosos, sadismo, homossexualidade, masoquismo e grosseira promiscuidade, Leiris consente ao obsceno e ao repulsivo. O que choca não é particularmente o que Leiris fez. A ação não é o seu ponto forte, e seus vícios são os de um temperamento sensual espantosamente frio – fracassos e deficiências rastejantes mais freqüentemente do que atos sensacionais. É que a atitude de Leiris não se deixa redimir pela mais leve nuance de respeito próprio. Esta falta de estima ou respeito próprio é obscena. Todas as outras grandes obras confessionais das letras francesas brotam do amor-próprio e têm o objetivo claro de defender e justificar o eu. Leiris se detesta, e não pode defender nem justificar”.
(Susan Sontag no ensaio “A Idade do Homem, de Michel Leiris”, em “Contra a Interpretação”).
Credo
“Não penso nada diante de Uganda. Na volta dos campos de concentração, também não pensava nada. Se penso alguma coisa, ignoro o que, sou incapaz de enunciá-la. Vejo. Fujo dessas pessoas que mal acabando de tomar conhecimento dessas coisas ou de vê-las já sabem pensar, e o que, e o que dizer, ou como concluir. É preciso evitar essas pessoas porque elas querem antes de mais nada perder aquele saber, afastá-lo de si passando à sua resolução imediata, é preciso fugir dessas pessoas que falam dos remédios e das causas, que falam da música na música, que, enquanto se toca uma Suíte para violoncelo, falam de Bach, que, enquanto se fala de Deus, falam de religião.”
(Marguerite Duras, “O Verão de 80”)
domingo, 5 de abril de 2009
Não Por Acaso
"Sabemos que, historicamente, o surgimento da pintura de paisagem coincide, não por acaso, com o do auto-retrato, o que nos leva a pensar que a exterioridade só é plenamente ´percebida´ quando a própria interioridade do sujeito se faz sentir e passa a se constituir como uma questão para ele".
sexta-feira, 3 de abril de 2009
As Cantigas Que Eu Ouço No Escritório, 1
C´mon back if the moment lends
You can look up all my very closest friends
Light, light enough
to let it go
It's light enough to let it go
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Em Glorioso Technicolor
telefonema
para o escritório,
tiro o dia
de tabula
rasa
pego todas
essas notas
a mim mesmo,
vou fazer
turismo
outono, quão
fenomênico de sua parte
sexta-feira, 27 de março de 2009
Romance, I
durante minha última
viagem cross Itália – ele
observou – costumava
enviar postais toda
semana para o meu
roupão. Enfim
parecia injusto deixá-lo lá,
pendurado no banheiro bege,
enquanto eu enchia a cara
de vinho todo dia e tirava
retratos de prédios vagamente
fascistas –
talvez a gente devesse
juntar os trapos
não, eu não vi o trem
chegando
quinta-feira, 26 de março de 2009
Cinema de Implosão, I
Que espécie de amor é possível em Copacabana?
domingo, 22 de março de 2009
Poesia
a distância entre dois
edifícios é insolúvel: poesia,
locus. Quantas
estilhas do percurso?
O longe se habita. Atestam
as janelas distantes
que não param de relampejar,
azuis.
Em tudo que se habita
um temporal azul, calado.
A distância entre dois
edifícios é insolúvel.
Uma garganta
cheia de pontes -- não
estivemos juntos então.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Um Caso Antigo
numa terra bem distante
calhou d'um peregrino
se perder
“isto vai mal”, meditou o peregrino
“isto vai mal”
“& os tasqueiros dos meus
treze anos, onde estarão?”
pois neste então
o peregrino decidiu
-se a refazer os próprios
passos, por selva cerrada
e cerrados crepúsculos
(passos)
(qual não é nossa surpresa quando)
e encontrou post-its
amarelos como o sol de Oran
afixados às paredes
de suas pegadas
e não entendeu o que neles
ia escrito, porque a caligrafia
era muito miúda
censuramos ao peregrino
sua falta de perseverança?
talvez tenha lido demais
em menino
confiante que as vistas
nunca se embotassem
mas isto tudo, naturalmente,
ocorreu numa terra bem distante
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Nas Imediações
Os primeiros sete poemas do "Synchronoscopio", disponíveis nesse endereço aqui.
E um inédito de nome "As Apostas", no blog do Plástico Bolha.
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Concessão do Amor
Ais de ceia posta. Tua noiva – inconsolável!
E teus pais não param de dar pancadinhas
ao ventre rendado da infeliz, orando que reste lá dentro
algo de teu que se possa aproveitar. Um radiograma
tocado a 4 mãos: “de parte para a Concessão do Amor”
de parte
para a Concessão do Amor
yeah yeah
agora, com este emprego de copidesque
na Gazeta dos Escoteiros, em três meses
serei homem de posses. E todos a bordo
para a Concessão do Amor!, onde os mais grados
membros do escol social fluminense
vêm cometer suas trapaças
& pecadilhos. Onde mansos
pasçam os presbíteros de nossa infância,
mugindo a intervalos para o sol, e o serviço
de quarto canta. Corre à boca pequena
que os mastros da cama são de confeito,
nunca nos faltará nada doce para rilhar. É teu irmão mais velho
este que chora discreto sobre uma primeira edição
das “Questões de Matemática”? Ora, não olhe
para baixo – eu te levo, e eu te levo de trem,
sirva-se de ostras no vagão-restaurante,
uísque com soda, correr é erudição
& na cabina, lemos romances policiais
a costa passando de permeio
(não saberia te explicar por quê,
mas é esta a imagem que mais me assombra)
leve seu pulôver favorito, e um chapéu
para o caso de nos sentirmos seresteiros –
todos a bordo para a Concessão do Amor,
yeah yeah! berram-nos dos alto-falantes,
quem? senão as Grandes Mentes Sem Deus
Deste Desconjuntado Século, escuta,
se o mundo inteiro já escreveu O Livro –
então eu seguro a porta do elevador
lamento um pouco mais teus olhos verdes
e te aquarelo, mais uma vez, a questão
Do Jeito Que Eles São
“And I envy you the valley that you found”
- Joni Mitchell
beleza – e punhos,
talvez – o sol em fevereiro
quando põe brasa nas abotoaduras
deles me faz pensar
beleza, punhos – força,
talvez. Imagino onde
chegaram – um milagre
terraplenado
ou milagre nenhum
imagino com
segredo quando o sol
em fevereiro faz estranhas
luzes nas botinas
deles – eles que aterram
as manhãs com suas botinas
sumosas de graxa – me faz
pensar beleza, o punho – fevereiro
hasteia o sol sobre pinhas
de gente – cruzamentos
súbito desatam-se – quando
em fevereiro vamos
coagulando
nos bancos altos
dos ônibus, o Aterro
do Flamengo, e antes de morrer
o dia tosse tinas de sangue (daqui
a pouco é Carnaval)
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Mankiewicz
"So many people know me. I wish I did. I wish someone would tell me about me."
"Infants behave the way I do, you know. They carry on and misbehave. They’d get drunk if they knew how, when they can’t have what they want. When they feel unwanted or insecure or unloved."
(dois trechos de "All About Eve", escrito e dirigido por Joseph L. Mankiewicz)
De Como Contraí Uma Moléstia Social Penetrando Um Penetrável do Oiticica, Fevereiro de 2009
"meu work in progress está progredindo"
fi-lo
à moda
bareback
deixei
as chinelas
no balcão
fiz-me
à estradinha de brita
às palmilhas
willing a coisa toda
a me doer,
que me doesse, então
no descalço
a boa arte
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Terminológica
grude doce
Gom'Amor
masca masca
você stacata:
o único critério que me interessa em arte
é a perenidade
ora, ora, o que temos aqui
não sou reacionário não, só acho que quando duas pessoas optam pela juntidão é porque elas acreditam em alguma sorte de futuro em comum, não te parece o caso? Isso de viver o momento
bom, parece que temos uma questão
de cunho terminológico em nossas mãos
é claro que faço concessões para a Arte dita Performática, mas convenha cá comigo, qual a última performance que você viu que não te fez nenhuma vontade de enterrar a cabeça num buraco?
Amor: Performance
o amor é um circo nu
não sei se gosto do seu tom de
voz
isto é voga, como toda a voga, é leviana, quebra
ao meio se tenta assuntar as emoções mais elevadas
este é o tipo de lugar que você freqüenta quando tem veneta
de emoções mais
elevadas? Baby, você consegue ser ainda mais ingênuo
do que eu
Os Sábados Silenciosos
"Desde o incidente com o Lysoform, minha sogra, a Benemérita – temendo, não sem razão, pelas vidas de seu único filho macho e de seu único neto – me manda, de quinze em quinze dias, o equivalente a um carrinho de compras cheio daquilo que ela costuma chamar suas “poções do lar”. Elas me aparecem em garrafas Pet de refrigerante, todas doadas por seus vizinhos, posto que minha sogra não tem o hábito de beber outra coisa que não café, nem água ela consegue tragar. Com punho bastante firme para uma senhora de seus anos, ela escreve o destino final de cada preparado em etiquetas brancas com bordas vermelhas, as mesmas que uso nos livros escolares do pequeno. Não sei se as cola às garrafas antes ou depois do transvaso, mas nunca estão úmidas, nem minimamente rugosas.
Na tarde em questão, fui até a despensa e peguei a garrafa com a etiqueta 'Sala'. Pus seu conteúdo num balde e empunhei o esfregão: um portento de apetrecho, esse esfregão. Bem tentacularizado, com cabo polido, carmesim. Quando vi o anúncio na tevê pela primeira vez, figurei de imediato uma lula empalada num palito gigante, e minha alma, ou o que quer que seja, sofreu uma espécie de repelão. Pareceu-me muito claro que, enquanto aquele objeto não me pertencesse, minha vida estaria drenada de todo e qualquer sentido. Rapidamente tomei nota do número de telefone que piscava no canto esquerdo da tela, e meus olhos marejaram quando declinei para a atendente os dados relativos ao cartão de crédito de meu marido.
'Você não dimensiona o quanto estou empolgada'.
Apanhei-me fazendo a mesma ponderação com minha cunhada Ana, a Preterida, poucos dias antes da chegada do esfregão. Por sinal, é por intermédio de Ana que me aparecem as garrafas Pet com as “poções do lar” de minha sogra, no curso de visitas que nunca ultrapassam a marca de vinte minutos. Isto, diga-se de passagem, é uma benção para todos os envolvidos. Das irmãs de meu marido, Ana é a única que restou na casa da mãe, um autômato de ar constrangido a quem cabe a degradante tarefa de bater à porta de todos os vizinhos do andar de tempos em tempos, mendigando garrafas vazias de refrigerante."
domingo, 25 de janeiro de 2009
Pinimbas Aparte...
De uns tempos para cá, peguei certa pinimba -- talvez algum horror -- de Clarice Lispector. Mas acabei de ler uma coisa bastante bonita dela, que reproduzo abaixo, não para sinalizar uma trégua -- minha guerra com Clarice é extremamente funcional --, antes para acenar a argúcia de todos os meus inimigos (a minha medida):
"Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes".
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Onde Arejar Sua Graça Numa Noite de Sábado?
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
domingo, 11 de janeiro de 2009
Dezembros (Reescritura)
a todo o tempo
as coisas vêm
a um lume frio
zumbindo corredor fora
aos tantos cinemas
desta estação balnear
ex machina
(as coisas vêm)
infalivelmente aos fortes,
torres descosem
nuvens gordas de exílio;
um talho seco no céu
expediente duma aridez
incalculável
Presentação de Tudo (Curtíssima Temporada)
permitam-me, senhores, começar
com uma distinção
invisibilidade
e inexistência
permitam-me, senhores,
evocar
da geladeira
(noite)
quando chegamos
pelos fundos,
e sua vigília
vibrante, porém
contida
a um canto escuro
da cozinha, a vigília
da ama que zumba
ártica, a ama-motor
(acenando a possibilidade
de um lanche
o adiantado da hora
um copo de leite gelado
mas agora você
já tem bigodes de pêlo)
senhores, permitam-me
chamar a palácio
a voz (moto-contínuo) da professora morta
(moto-contínuo) refratando-se
em muitas vozes
e uma tentativa desastrada
de afogamento
no Posto 10
aos treze anos de idade
tarde
de céu desfeito
Um Palácio (morte)
(ou a ficção palaciana
da morte)
senhores, senhores,
permitam-me
um imprevisto
um intervalo antes mesmo
de começar (o tempo dos outros
é serradura), um equívoco
por parte do pessoal
da Iluminação
uma pequena mudança de planos
uma chamada telefônica às duas da manhã
uma emergência
sim, uma emergência qualquer
& a demanda
de muito mais voz
(eu não tenho palavras,
uma mesura,
só me restam palavras,
um floreio duro das mãos,
me sobram palavras,
ele se entrega)
Memória da Praia
(ontem eu cantei e bati palmas com o pessoal do Luísa Mandou um Beijo, na Sala Baden Powell, e foi bonito)
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Pnin
"Deve dizer-se em favor de Laurence e Joan que dentro de algum tempo os dois começaram a apreciar Pnin no seu valor pniniano único, muito embora ele fosse dentro da casa mais uma alma mal-assombrada do que um inquilino. Fez alguma coisa fatal ao novo aquecedor do quarto e disse simplesmente que não tinha a menor importância porque a primavera não tardava. Tinha uma irritante mania de sair para o patamar e ali escovar assiduamente as roupas, batendo com a escova nos botões durante cinco minutos, pelo menos, todas as manhãs. Sofria de um caso de verdadeira paixão pela máquina de lavar de Joan. Embora proibido de aproximar-se dela, era de vez em quando apanhado em transgressão. Pondo de lado todo o decoro e cautela, jogava dentro dela tudo o que lhe estivesse ao alcance da mão, o lenço, as toalhas da cozinha, um montão de cuecas e camisas trazidas às escondidas de seu quarto, só pela alegria de ver pela janelinha o que pareciam intermináveis cambalhotas de golfinhos atacados de epilepsia".
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Você Por Aqui
você me cruza
na rotunda
faço pressa
dos teus olhos
prestes
a vazar tinta
pelos meus
(isto não passa
sem documento
você nunca
teve avalanches
você não tem
avalanches nunca), (e
que direito
tenho) eu
-- receio --
bastante esporado
faço pressa
começa
às Três
não tão em ponto
mas convenhamos
essa sessão
sou eu
sozinho
nunca precisei de um amante,
me bastava um pianista contratado
2008: Estertores do Além-Túmulo
O folclórico ano de dois mil e oito chega ao fim. Uma trouxa momentosa de meses. Agora, olhando para trás, as coisas começam a ensaiar uma clareza: a maior parte das lembranças me vem com certo ar de parem as rotativas, isto está acontecendo!, e me impressiona fundo que tudo esteja diferente, transfigurado, quase, em torno de qualquer coisa muito igual. Claro, os elementos da equação não se alteraram de todo, eu ainda só tenho isso aqui para lavrar. E eu poderia tecer críticas as mais impiedosas quanto a meu próprio desempenho nesse esquema. Mas acho que não é o caso. Acho que estou satisfeito. Estou na medida do possível. O momento emergencial está para, e eu ainda muito lento, especulativo, tentando – com muita força – aprender o que quer que seja. Fim de contas, isto tudo é de uma fragilidade absurda: o que se dá, o que está se dando neste exato instante. Então, enquanto ponho este balanço abaixo, não me escapa o quão exato foi o ano de dois mil e oito. Os outros, os precedentes, comparados com este, me fazem uma certa impressão de gosma. De indistinção. Agora não. Qualquer coisa como um rumo começou a se traçar, e eu honestamente feliz de estar seguindo algum caminho (e basta passar dez minutos na minha companhia para perceber que eu tropeço, bastante, o tempo inteiro).
O que segue é um sujeito confuso, caudaloso e, no mais dos casos, um tanto leviano. Começo a acreditar que escrevo por pura falta de senso prático. Outro dia quase me arrisquei num axioma: poesia (expressão artística) é tudo aquilo que não se resolve. Contraparte do bom e velho o que não tem remédio, remediado está. Tudo que não sei dizer o que é, toda a estranheza, tudo aquilo que não permite imparcialidade.
As gentes são uma maravilha crassa. Um embrulho no meu estômago de avestruz. Perdi as contas de quem vai, de quem vem, mas gosto de acreditar que estive agente. E nos últimos meses, até prestar alguma atenção eu prestei. Sim, nestes últimos meses as pessoas me falaram coisas (veja você). Elas sentaram e conversaram comigo e me explicaram. Fiz notas num bloco. Depois eu mostro. Prometo. Prometo.
Dois mil e oito passa sem panegíricos. No laudo pericial, nenhuma gracinha. Causas naturais. Foi lá e pimba, empacotou. Um suspiro ao de leve, um acomodar-se na velha poltrona bege, cálice de vinho do porto nas mãos. Imagino que a tranca é uma prece dita muito baixo, sem solenidade, uma emoção (!) sincera. E que 2009 – sim, leitor, é contigo mesmo – seja um ano de sacações incríveis e ação descarada. Foco febril e noitadas sensacionais. Alegria besta e amores errados. E dinheiro. É, tem isso também.